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Mostrando postagens de 2016

Plante uma Árvore

Já faz algum tempo que o feirense padece sob um calor insano. O dia, normalmente, até começa com muitas nuvens no céu e uma brisa agradável. Mas às oito da manhã o sol já esquenta rijo, apressando o passo de quem sai para suas ocupações. A partir daí torna-se implacável: à medida que se encaminha para o centro do céu as sombras encurtam, espantando quem está pelas ruas. Diversos termômetros espalhados pela cidade sinalizam que, nesses dias, das dez em diante, atingimos facilmente os 35 graus. Aí a temperatura só começa a declinar das três da tarde em diante. Mas mesmo quando a luz do sol vai ganhando aqueles tons alaranjados do final da tarde o calor ainda é intenso. E notem que o verão nem começou. Pelo menos oficialmente. Registros indicam que, noutros tempos, a Feira de Santana era conhecida por seu clima agradável. Arrimo de boiadas e boiadeiros, o antigo arraial tinha vastos reservatórios de água superficial e a vegetação que combinava mata atlântica e caatinga permanecia bem

Carro do ovo é o retrato da crise econômica

Lá por meados dos anos 1990, quando exercia o primeiro dos seus dois mandatos presidenciais, Fernando Henrique Cardoso cometeu um deslize que teve ampla repercussão: disse que os pobres vinham melhorando de vida e que estavam, inclusive, consumindo produtos como frango, iogurte e prosaicas dentaduras. A oposição, à época, fustigou o governo com discursos implacáveis; e não faltaram comentários irônicos da chamada grande mídia que, até então, exercia seu papel com mais inteligência e independência. Naqueles tempos, pobre só consumia frango aos domingos. Era uma piada corrente, mas com inegável fundo de verdade. Afinal, os brasileiros emergiam de anos de hiperinflação – que, invariavelmente, penalizava os mais pobres – e, àquelas alturas, o salário-mínimo patinava em valores irrisórios, muito abaixo dos almejados 100 dólares que povoavam os sonhos da oposição. Obviamente, essa penúria se refletia no cardápio das periferias. Muita gente suava para garantir o feijão, a farinha e, even

Movimento no comércio feirense decepciona

As vendas natalinas na Feira de Santana não devem ser das mais favoráveis nesse 2016 que finda nos próximos dias. Simples observações pelas ruas da cidade indicam que o consumidor feirense está reticente, circulando muito pelas vias comerciais, mas aventurando-se pouco lojas adentro. Ressalte-se que a tendência não se verifica apenas aqui na cidade, mas em todo o País. Mais um desdobramento da terrível recessão que se arrasta há dois anos e que, por enquanto, não dá sinais de que vá arrefecer. Todos os anos o comércio funciona em horário especial em dezembro, em função dos festejos de final de ano. É quando cresce o volume de consumidores e muita gente dispõe do décimo-terceiro salário como recurso extra. Daí o horário de funcionamento expandido, o que inclui jornadas especiais aos domingos. Em função do maior conforto, muitos preferiam comprar nessas datas. Nos dois últimos domingos o comércio feirense funcionou. O fluxo de consumidores, comparado ao de anos anteriores, foi decep

Mendigos e pedintes retornam às ruas feirenses

Quem circula pela Feira de Santana vem notando: tem crescido o número de pedintes, mendigos, moradores de rua e outros deserdados pelo centro da cidade. Também vem se ampliando a quantidade de vendedores que circulam pelos ônibus, oferecem seus produtos pelas praças e avenidas ou que tentam arranjar-se como camelôs, confiscando espaços exíguos das vias públicas para exibir seus produtos. Tudo isso se deve à feroz crise econômica que assola os brasileiros há dois anos. Mulheres maltrapilhas, com crianças de colo, voltaram a se tornar rotina nas portas dos bancos, na frente dos supermercados, na estação rodoviária ou em qualquer ambiente pelo qual circule gente com dinheiro. Sobretudo nesses dias que antecedem o Natal, quando os brasileiros embolsam o aguardado décimo-terceiro salário. Nos pontos de ônibus os passageiros recorrem a variados contorcionismos para se desviar dos carrinhos-de-mão e dos vendedores que apregoam suas mercadorias aos gritos. Muitos ambulantes embarcam nos ô

Um sonho para João

Recorro, mais uma vez, a João, aquela personagem fictícia que criei num texto anterior. Hoje ele tem nova missão: será protagonista no cenário da famigerada PEC do Teto de Gastos. Aquela mesma que foi aprovada no Senado essa semana. Tumultuada, a sessão foi marcada por incontáveis arroubos cívicos das excelências que foram favoráveis à medida. A partir daqui, acione-se o cronômetro que fará a contagem regressiva para o colapso dos serviços públicos num futuro próximo. Isso se, antes, não acontecer uma convulsão social. A chamada grande imprensa passou os últimos dias alardeando que a PEC iria “limitar os gastos públicos” e “conter a gastança do setor público”. Mentira: nessa armadilha, ficam de fora os juros da dívida pública, porque simplesmente não há limite para esse tipo de despesa na esperta medida redentora. O governo, portanto, vai retirar recursos da saúde, da educação, da assistência social e da previdência para remunerar o capital financeiro. É dinheiro que sai dos servi

Xamanismo econômico do PMDB dá chabu

Dilma Rousseff (PT) ainda cambaleava com a rasteira aplicada pelo emedebismo quando o controverso Michel Temer (PMDB-SP) anunciou seus planos para a economia brasileira. Principal beneficiário da orquestração que defenestrou o petismo, o polêmico presidente prometia os primeiros sinais de recuperação econômica para um horizonte curto, já em meados de 2016, no máximo no quarto trimestre. Para justificar, brandia o resgate da festejada “confiança” dos mercados financeiros. O discurso oficial recauchutava uma série de clichês, destacando-se a defesa da redução do tamanho do Estado. Para quem observava com mais atenção era visível que o novo regime abraçava uma espécie de xamanismo econômico, com o deus mercado ocupando a condição de principal totem. Aquilo parecia pouco para vencer a crise. O transcorrer dos meses mostrou que os instrumentos invocados pelo emedebismo para debelar a profunda recessão na economia brasileira são, no mínimo, insuficientes. Segundo a pajelança oficial, ba

O drama de João

João é personagem fictício: criei-o agora, na abertura desse texto, para ilustrar a temerária reforma da Previdência encaminhada para o Congresso Nacional essa semana. Não faz mal: João tem tantas características em comum com milhares de pessoas que, provavelmente, o leitor vai considerá-lo familiar, quase conhecido. Pra começar, João é feirense e, portanto, brasileiro; jovem: mal completou os 18 anos; é pardo, reside na periferia e frequenta a rede pública de educação. João procura emprego: apesar da idade, ainda não concluiu o ensino médio; até aqui, só conseguiu alguns bicos, temporários e precários, que lhe renderam alguns trocados para ajudar nas despesas domésticas. Os impactos da crise já lhe são familiares: conhece muita gente que perdeu o trabalho modesto ao longo desses dois anos de intensas agruras econômicas. Agora, João tem ouvido dizer que a Previdência vai sofrer mudanças. O que se fala é que pobre não vai mais ter direito à aposentadoria. Num cálculo rápido, ele

O drama do desemprego no mês do Natal

Milhares de feirenses vão atravessar o Natal à procura de emprego. Muitos fazem isso desde o ano passado, quando a profunda crise econômica extinguiu, no município, mais de 6,5 mil postos de trabalho. Ao longo de 2016 a recessão seguiu intensa, apesar das projeções otimistas que foram sendo lançadas a partir de maio, quando Dilma Rousseff (PT) foi deposta. Desde janeiro, são 4,4 mil empregos a menos. Em pouco mais de dois anos, quase 10% dos postos de trabalho formais, na Feira de Santana, foram extintos. Comentou-se muito que, em meados de 2016, o cenário estaria mais favorável. Pelo menos estaríamos alcançando o fundo do poço. Não é o que apontam os mais recentes indicadores econômicos. E a própria equipe econômica do atual governo já projeta que o desemprego só começa a declinar a partir do segundo semestre do próximo ano. Em pouco mais de uma década o brasileiro foi perdendo a memória dos tempos ásperos de desemprego elevado e dinheiro curto. Acostumou-se com a relativa fartur

Os riscos da hipotética deposição de Michel Temer

Aqui e ali, diluídos no meio do noticiário, já surgem comentários sobre a possibilidade de Michel Temer (PMDB-SP) ser apeado do poder, da mesma forma que sua antecessora, Dilma Rousseff (PT). As razões variam: crime de responsabilidade no controverso episódio do edifício “La Vue”, em Salvador, irregularidades na prestação de contas eleitorais e, também, encrenca com as delações da operação Lava Jato. Temperando o mal-estar, a aguda crise econômica que, até agora, não dá sinais de que vá arrefecer no curto prazo. Indicativo que a instabilidade política vai se estender por 2017. A oposição já se assanha, prometendo protocolar pedido de impeachment na Câmara dos Deputados. No momento, a iniciativa parece fadada ao fracasso: o polêmico presidente conta com base ampla e o pedido não deve prosperar. Mas ninguém sabe até quando essa tranquilidade deve prevalecer, sobretudo em função do cenário econômico adverso e das escassas medidas de curto prazo para reverter a recessão. Isso para não

Um dia de verão em Feira

Quem pensa no verão imediatamente associa a estação ao litoral. Com ele vêm à mente as praias lotadas, os corpos bronzeados, os mariscos degustados como aperitivo, a cerveja gelada e as férias. Manhãs e tardes ganham luzes e cores espetaculares, que extasiam os turistas e, também, aqueles nativos com sensibilidade poética mais aguçada. É período de descanso, de flanar, pouco envolvido pelas asperezas do cotidiano. Mesmo quem trabalha se contagia, nas folgas eventuais, com o clima mais suave que se estende de dezembro a março.          Ainda não alcançamos a estação, mas aqui na Feira de Santana os primeiros sinais vão se afirmando, inequívocos, mesmo para os mais desatentos. As madrugadas são mais curtas e, lá pelas quatro horas, as luzes da manhã, ainda tímidas, começam a romper a escuridão. O sopro frio da noite vai se aquecendo com as primeiras luzes e efervesce com os primeiros raios de sol.       A manhã precoce atrai muitos atletas, seduzidos pelo sol morno. Esses destoam do

“Efeito Trump” eleva preços dos presentes natalinos

Mais um Natal se aproxima e as perspectivas não são muito promissoras para os negócios, conforme indica o noticiário. Tudo por conta da crise econômica que ainda se aprofunda e à crise política que está longe de um desenlace definitivo. Faltam cerca de 40 dias e a tradicional decoração natalina – muito comum já em meados de outubro nos anos de prosperidade, de consumismo desenfreado – ainda é tímida nas ruas. Os pinheiros plásticos, a neve de algodão e o tradicional Papai Noel de barbas brancas ainda são raros nas vitrines feirenses. Ano passado a crise tragou cerca de 6,5 mil empregos na Feira de Santana. Embora tenha perdido ímpeto ao longo de 2016, os estragos seguem intensos, mesmo após o início do governo de “salvação nacional” de Michel Temer (PMDB-SP). Com tanta gente fora do mercado de trabalho, a perda de dinamismo no comércio é natural. As agruras, porém, não se esgotam com a redução no estoque de empregos formais. As recentes – e intensas – oscilações na cotação do dóla

O longo calvário até o ocaso do emedebismo

Há pouco mais de seis meses que o emedebismo assumiu a presidência da República, após a rija rasteira aplicada no petismo de Lula e Dilma Rousseff. À época, as raposas da legenda tentaram arejar o salto para o poder, emprestando-lhe um ar de novidade, de esperança incipiente, quiçá de entusiasmo. Como se o novo titular do posto – o controverso Michel Temer – representasse, efetivamente, algo de novo. Depois das manobras sórdidas e da defenestração do petismo, vieram os anúncios pomposos de “salvação nacional” e outros clichês.  Eufóricos na posse, os novos mandatários, logo nos dias seguintes, anunciaram seus planos de redenção do Brasil. Reformas trabalhista e da previdência, teto nos gastos públicos, terceirizações, privatizações, concessões e tudo aquilo que – ainda que vagamente – se reporte à economia de mercado ou ao liberalismo vulgar que o emedebismo abraçou com sofreguidão logo após a posse. As palavras-chave do novíssimo regime eram austeridade, previsibilidade, racional

O Sertão vai virar deserto

Quem se aventurava a cortar os inóspitos sertões nordestinos, lá por meados dos anos 1990, recorda bem a penúria em que viviam os pequenos municípios da região. Isoladas na profusão de espinhos de mandacarus e xique-xiques, castigadas pelo sol inclemente, expostas aos rigores das estiagens frequentes e ao fantasma da escassez hídrica, essas pequenas cidades só ganhavam as manchetes quando figuravam nos periódicos decretos de situação de emergência. Ou quando legiões de famélicos saqueavam os armazéns dalgum próspero comerciante. À época, o Brasil atravessava outra quadra áspera, na qual o receituário do Fundo Monetário Internacional, o FMI, tinha valor de sanção canônica. A pobreza e a exclusão, as profundas desigualdades sociais – jamais atenuadas – e a candente questão do desenvolvimento regional eram temas banidos naqueles anos. Afirmava-se, com sólido saber doutoral, que o livre funcionamento dos mercados resolveria todas essas questões. Sob o petismo, as campinas sertanejas s

Crônicas Temerárias (III)

O modus operandi que Michel Temer e seu PMDB estão empregando para produzir o maior retrocesso civilizatório da História do Brasil já está bastante claro. O ponto de partida é, sempre, um consenso fácil, uma dessas proposições tão lógicas que ninguém, à primeira vista, consegue se opor. “´É necessário limitar os gastos públicos”, apregoa o discurso oficial que reverbera na imprensa; ou “o Ensino Médio precisa mudar”, constata-se nos gabinetes palacianos, com eco imediato junto à mídia, apenas para ficar num segundo exemplo. Qualquer imbecil sabe que é impossível gastar ad infinitum e ad aeternum , incluindo nessa lógica os cofres públicos. Até os deputados do baixo clero conseguem entender isso. O problema não reside, necessariamente, no diagnóstico, mas sim nas controversas soluções que são colocadas como se fossem a única alternativa, a opção solitária. Para conter a sangria nos gastos públicos o caminho encontrado é a redução nos investimentos em saúde e educação, o arrocho s

Crônicas temerárias (II)

            Parece que, nos próximos meses, pretende-se revogar esse negócio de aposentadoria, de direito a ócio remunerado no fim da vida. É o que se deduz com base nas propostas que estão sendo urdidas lá no Planalto Central, em Brasília, pelo controverso presidente Michel Temer e sua equipe. Pelo que noticia a imprensa, aposentadoria, para os mais jovens, só a partir dos 65 anos; mas com valor integral só com inacreditáveis 50 anos de contribuição. Alguém na temerária Brasília deve ter descoberto que aposentadoria é coisa de comunista, de subversivo, de malandro, de vagabundo, de quem não gosta de trabalhar. Daí resolveram revogar esse inadmissível privilégio com um expediente sorrateiro: estabelecem-se pisos altíssimos demais, para que apenas uns poucos privilegiados consigam alcançá-lo. Mas, evidentemente, cobra-se de todo mundo, é claro. Quando criança, na década de 1980, espantava-me andar pela Feira de Santana e me deparar com incontáveis idosos desvalidos, pedindo esmol

Crônicas temerárias (I)

             Quando flertava com a manobra traiçoeira que apeou Dilma Rousseff do poder, Michel Temer (PMDB) proclamou que conduziria um governo de “salvação nacional”. E anunciou, solene, que montaria um ministério de “notáveis” para conduzir essa sagrada missão. Como todos sabem, os notáveis ficaram pelo caminho, atropelados pelos políticos profissionais que alcançaram o balcão – essa imortal instituição nacional – em desabalada carreira. Os “notáveis” figuraram como piada um par de dias mas, depois, foram esquecidos.             Há quem enxergue no temerário ministério um magote de nulidades, pouco qualificados em questões gerenciais; outros adotam uma perspectiva ética: figuram no olimpo temerário figuras altamente suspeitas de envolvimento com corrupção, inclusive nos mesmos escândalos que serviram para escorraçar os petistas, embora isso a chamada grande mídia não repise. Passados quase cinco meses do controverso mandato, porém, uma outra característica avulta do famigerado

Meio ambiente é tema banido das eleições municipais

              Faltam poucos dias para as eleições municipais. No próximo final de semana, mais precisamente, saberemos quem vai conduzir a Feira de Santana até 2020. Isso se não houver segundo turno, o que as pesquisas descartam até aqui. A campanha foi curta: meros 45 dias, com pouco mais de 30 dias de campanha na televisão. E o tempo foi dramaticamente encurtado, com somente duas inserções diárias de apenas 10 minutos. Com tão pouco tempo, ficou difícil saber o que os candidatos a prefeito pensam sobre uma série de temas. A questão ambiental, por exemplo, exigiria um debate mais profundo. A rigor, a Feira de Santana possui uma Secretaria de Meio Ambiente o que, em tese, configura um avanço. Mas, embora disponha de estrutura institucional, o município não conta com nenhuma política para o setor. O que se anuncia, sempre, são intervenções pontuais, normalmente anunciadas com estardalhaço. As lagoas feirenses seguem sendo tragadas pela especulação imobiliária. Muitas se transform

A crise sob a ótica do mercado imobiliário

              Ao longo do ano passado muita gente relutou em admitir que o Brasil começava a atravessar uma severa crise econômica, certamente a mais profunda em mais de um século. Alguns, por questões políticas: aceitar a recessão implicava em colocar-se na defensiva, depois de quase uma década da frenética pujança consumista legada pelo lulopetismo, que perdia o discurso a partir da debacle econômica. Outros mostraram-se arredios mais por questão de temperamento, de dificuldade em aceitar que o País ingressava em uma quadra dura, de desemprego elevado e de consumo declinante. São os otimistas incorrigíveis.                 Enquanto a recessão transitou pelo noticiário, com os esotéricos indicadores econômicos em gráficos indecifráveis, tudo bem: aquilo assemelhava-se aos incessantes debates estéreis que a imprensa teima em repisar, sem efeitos práticos. Pouco a pouco, porém, a crise foi migrando da retórica e dos indicadores para a vida real: muitos foram perdendo seus empregos

O Coronel é uma instituição latino-americana

Dizem os estudiosos, gente metódica do meio acadêmico, que o Coronelismo acabou; Que se trata de fenômeno histórico, esgotado quando Getúlio Vargas triunfou com sua revolução, lá em 1930, sepultando a República Velha. Bobagem: mais que uma categoria ou um elemento de análise sociológica, o Coronelismo é um estado de espírito, uma forma de ser, uma visão particular sobre o mundo e a sociedade. E persiste até os dias atuais, apesar de todos os esforços, infrutíferos, para considerá-lo sepultado. O Coronel é uma figura pitoresca que não floresce num lugar determinado do Brasil: simbiótico, ele encarna todas as metamorfoses necessárias, mostrando-se perfeitamente ajustado às mais distintas regiões do País. É como o camaleão, cuja tonalidade da pele encarna as características do ambiente em torno. E, faça-se justiça, é figura continental: vê-se espécimes semelhantes espalhadas pela América Latina, emergindo dos fundos de província com seu bigode indefectível, com seu chapéu panamá, c

A Reforma da Bíblia

Eu nem sabia que era possível apresentar emenda para modificar a Bíblia. Pelo que entendi, isso é possível lá no Planalto Central, em Brasília, na Câmara dos Deputados. Atribuição de político graúdo. Não é à toa que os mais entendidos dizem que na capital do País se fazem coisas que até Deus duvida. Ou talvez não recomende, como é o caso em questão. Confesso que isso me animou: com muita modéstia, sem aquela circunspecção teológica dos doutos nas Sagradas Escrituras, tenho lá minhas humildes propostas para aprimorar a Bíblia, ajustá-la a algumas necessidades da vida moderna. Mas claro que só faria isso a partir de intensos debates, ouvindo especialistas e a comunidade, como é a praxe nos dias atuais.  Meu problema é chegar lá, no Planalto Central: é longo e tortuoso o caminho de quem ascende na vida partidária. Daqui a dois anos tem eleição para deputado federal mas reconheço que, hoje, minhas chances são mínimas, mesmo com uma plataforma eleitoral reluzente: a reforma das Sagrada