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Mostrando postagens de abril, 2016

Sonho de uma noite de Micareta

               A programação oficial da Micareta 2016, divulgada pela Prefeitura Municipal, mostra que essa vai ser uma das festas mais modestas dos últimos anos. Pelo que se percebe, boa parte das atrações previstas será patrocinada pela própria prefeitura. Os blocos privados, que nos anos anteriores eram responsáveis pela contratação das grandes atrações da música baiana, serão pouco generosos na festa que começa hoje: descontando uns poucos nomes desgastados, e outros tantos de qualidade duvidosa, haverá pouco apelo popular na avenida Presidente Dutra. É, sem dúvida, mais um sintoma da feroz crise econômica em andamento.             O curioso é que, caso alguém resolvesse resgatar as micaretas irreverentes de outras épocas, com máscaras e fantasias, encontraria farta inspiração na crise política em curso no País. Só as máscaras já renderiam ampla galhofada: sem dúvida, Eduardo Cunha figuraria como grande homenageado; mas o elenco seria vasto: Dilma Rousseff, Michel Temer, Lul

A Era Cunha

             Peço licença àqueles mais afeitos à precisão dos conceitos acadêmicos e ao rigor metodológico para lançar uma especulação que, talvez, o futuro próximo confirme como fato. Trata-se de cogitar que, desde o ano passado – talvez meados de 2014, logo após as eleições presidenciais – mergulhamos na Era Cunha. Noutras palavras, defendo que, assim como vivemos as eras Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula (2003-2010), estamos vivendo um período em que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) dá as cartas na política nacional, mesmo não exercendo, diretamente, a presidência da República.                 A Era Cunha sustentou-se, até aqui, no vácuo de poder deixado por Dilma Rousseff (PT), em vias de ser deposta por manobra articulada pelo próprio Eduardo Cunha. E tende a se sustentar – sabe Deus até quando – na tibieza de caráter e na conjuntura frágil que envolve o sucessor da petista, Michel Temer (PMDB). O leitor mais atento enxergará, a princípio, incoerência na proposição. Uma a

Mais de quatro mil homicídios desde o início do século

Os números variam um pouco, mas no atacado a Feira de Santana rompeu, há alguns meses, a marca dos quatro mil homicídios desde o ano 2001. Considerando o número até março de 2016 – só no primeiro trimestre são mais de cem assassinatos, número bastante superior aos de anos inteiros em algumas grandes metrópoles do planeta – são mais de 4,1 mil assassinatos a partir do início do século. Com essa soma assombrosa, é difícil um feirense não conhecer alguém que já foi tragado por esse turbilhão de violência. Quem analisa a série histórica enxerga, de imediato, a tendência ascendente e a relativa estabilização em níveis altíssimos nos últimos anos. Desde 2007 morrem, pelo menos, duas centenas de pessoas todos os anos. Isso para não mencionar a prática nem tão incomum do latrocínio, o roubo seguido de morte, quem nem figura nessa contabilidade. Em 2015, houve intensa comemoração pela redução em relação ao ano anterior. Oficialmente, foram 282 mortes. Nessa contabilidade, todavia, não en

Lambança política invoca “República das Bananas”

Miranda é um país imaginário na América Latina, protótipo da república das bananas que tanto estigmatizou a região durante décadas. O país fictício figura no filme “O discreto charme da burguesia”, do espanhol Luís Buñuel e existe para dar vida à personagem do embaixador que representa o país em Paris. Tosco, mulherengo e violento, a personagem encarna bem o arquétipo do coronel latino-americano, com o eterno charuto entre os dedos e o típico jeitão de cafajeste latino. O filme foi lançado ainda nos anos 1970 mas, no que refere à nação imaginária, é de uma atualidade desconcertante. Não falta quem enxergue o Brasil descolado desse estigma latino-americano: gigantes pela própria natureza, estaríamos distantes dos ditadores caricatos e chefetes provincianos que pululam do Caribe aos Andes. O otimismo é exagerado: nos momentos de tensão, nas curvas da História, esbarramos com velhos hábitos arraigados, que invocam o mesmo pretérito incômodo. Paralisado com a crise política, o País

A Semana Santa contaminada pela política

                A Semana Santa é um dos feriados mais valorizados pelo feirense. Em parte, essa importância se deve às sólidas tradições católicas que, ainda hoje, inspiram parcela significativa da população local. Mas isso apenas em parte: apesar dos ritos solenes, do respeito e da reverência à crucificação de Jesus Cristo, o período tem, também, suas celebrações profanas, sobretudo aquelas relacionadas à ceia, que é consumida na Sexta-Feira da Paixão, ápice da celebração católica.                 Noutros tempos, o período era revestido de rigor solene: durante toda a Quaresma, às quartas e sextas-feiras, comia-se apenas peixe; o pescado era obrigatório também entre a quarta e a sexta-feira santas. Nessa data, a propósito, os católicos mais engajados praticavam o jejum, como forma de penitência, ante os sofrimentos impostos a Jesus Cristo. O silêncio era outra característica comum à Semana Santa.                 Com o passar dos anos, no entanto, as tradições foram se flexibi

Sombras se insinuam sobre a democracia brasileira

                                                Quem observa de fora não tem como não julgar que o governo Dilma Rousseff (PT) aproxima-se do seu epílogo. A debacle econômica, a paralisia política e as severas contestações de natureza ética emparedaram o governo ainda em 2014, logo depois de confirmada a renovação do mandato da presidente. À distância, parece que a acirrada disputa política exauriu por completo o petismo, incapaz de reagir às agruras que se seguiram, sobretudo a partir do início do segundo mandato, em janeiro de 2015.                 Por outro lado, uma oposição sistemática – em alguns casos, até hidrófoba – vem inviabilizando quaisquer tentativas de reação, mesmo as mais tímidas. Parece claro que, diante desse impasse, governo nenhum consegue constituir uma agenda mínima, por mais modesta que seja. É o que está acontecendo há pelo menos uns quinze meses, desde meados de 2014, nos dias que sucederam a fatídica eleição.                 Quem conhece um mínimo de