Em texto anterior
lançamos a discussão sobre a necessidade de se começar a avaliar a política de
habitação popular em Feira de Santana. Particularmente o programa Minha Casa
Minha Vida, de amplo apelo midiático nos governos petistas. É claro que houve
avanços expressivos; mas é claro, também, que houve equívocos que precisam ser
discutidos. Afinal, pelo jeito, essa era está chegando ao final.
No Brasil, pobre sempre
penou para ter acesso aos espaços urbanos para moradia. Na média, esse acesso
se deu com as ocupações que deram origem às favelas. Isso, muitas vezes, em
morros ou depressões próximos das áreas nobres; os demais foram se arranjando
nos espaços rurais, distantes, que aos poucos foram incorporados ao perímetro
urbano, dando origem às periferias.
A presença do pobre nas
imediações das áreas nobres sempre causou desconforto. Ao longo da história,
não faltaram esforços para afastá-los, mantê-los a distância prudente. Foi o
que aconteceu, por exemplo, no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX.
Lá, por exemplo, construíram o conjunto Cidade de Deus na longínqua zona oeste
com o propósito de alojar os pobres vítimas de enchentes ou de incêndios em
favelas, nos anos 1960.
Posteriormente, essa estratégia
se tornou política sistemática: em boa parte das cidades brasileiras, sobretudo
nas metrópoles, lugar de pobre é na periferia longínqua. Mesmo que existam
bairros próximos degradados, regiões centrais abandonadas, terrenos disponíveis
que poderiam abrigar habitações populares. É bom que se reconheça que esse apartheid não é exclusividade
brasileira.
Minha
Casa Minha Vida
No segundo governo do
ex-presidente Lula o impulso à habitação popular foi formidável. E continuou no
primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), findando com a rasteira aplicada pelo
emedebismo há quase um ano. Em parte, porém, a iniciativa replicou antigos
vícios que se tornaram habituais nas últimas décadas.
É o caso do Minha Casa
Minha Vida em Feira de Santana. Aviário, Conceição, Mangabeira, Santo Antônio
dos Prazeres, Gabriela, Pampalona e Asa Branca tornaram-se os espaços
preferenciais para a construção de condomínios populares. Todas são localidades
distantes da valorizada região central da cidade.
As conveniências
combinadas dos governos e das construtoras nortearam a política. Dessa forma, os
blocos de apartamentos foram surgindo em áreas inteiramente despovoadas, além
das periferias. A partir daí desbravava-se a vegetação para, em pouco tempo,
surgirem sucessivas edificações. O problema é que, costumeiramente, a
infraestrutura em torno é nenhuma.
Precariedade
Os problemas começam
pela mobilidade. As distâncias são enormes, a oferta de transporte público é
precária, as pessoas têm imensas dificuldades de se
locomover para o trabalho, o estudo ou, até mesmo, para procurar trabalho. Sair
pela manhã – e, sobretudo, retornar no início da noite – exige sacrifícios; e
costuma ser arriscado, já que a insegurança é ainda mais aguda nesses lugares.
Sem planejamento,
condomínios habitados por milhares de pessoas foram construídos sem creches,
escolas ou postos de saúde nas imediações. Quando existem, são incapazes de
suprir a demanda repentina. Também costuma faltar, até mesmo, infraestrutura de
comércio e serviços e os preços são elevados para o nível de renda da
população.
Alega-se que, ao
longo do tempo, suprimem-se os problemas relacionados à oferta de serviços como
transporte, saúde ou educação. Mas persistem outros, tão graves quanto aqueles:
os moradores moram distantes das regiões dinâmicas que oferecem oportunidades
de trabalho; os negócios costumam ser precários e pouco rentáveis; e
qualificação só nas regiões mais dinâmicas da cidade. São questões que devem
ser consideradas nas futuras avaliações dessas iniciativas.
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