Pelas
ruas ouço, aqui ou ali, gente declarando que pretende votar em Lula para
presidente em 2018. São garçons, jornaleiros, aposentados, desempregados,
biscateiros. Gente do povo que, durante alguns anos, experimentou uma trégua
breve na feroz e excludente rotina dos pobres brasileiros. Enquanto o PT
figurou como bastião único da corrupção, como o monstro a ser execrado nas
ensandecidas manifestações dos últimos anos, essa gente se calou, cautelosa.
Agora que as delações revelam que todos figuram no mesmo lodaçal – inclusive
boa parte dos grandes líderes que desfilavam nos protestos – essas pessoas vão
recuperando a voz, expressando opiniões sem maiores receios.
Pesquisas
recentes, inclusive, indicam que Lula lidera as preferências do eleitorado. Tudo
isso é válido num cenário de plena normalidade política, comum nas democracias
dos países minimamente desenvolvidos. Ano passado, com a deposição de Dilma
Rousseff (PT), o Brasil passou a flertar com seu passado, recheado de
quarteladas, longos regimes de exceção e predomínio da força na resolução de
querelas políticas. Com esse histórico recente, não dá para seguirmos
pleiteando espaço entre os minimamente desenvolvidos.
Lula
responde a um vasto leque de acusações. Pelo que se percebe, há um intenso
esforço para inviabilizar sua candidatura, removendo-o do jogo eleitoral. Isso
há anos já, com a entusiasmada participação da chamada grande mídia. Afinal,
todos os demais delatados – embora ressabiados – não vislumbram a Justiça em
seus calcanhares. Pelo menos até aqui. É improvável que sejam impossibilitados
de disputar as próximas eleições.
Com
o petista é diferente: circulam rumores que ele pode ser preso já nos próximos
dias, numa iniciativa ousada cujos desdobramentos são imprevisíveis. Há o risco
de Lula tornar-se mártir: o único preso entre as dezenas de figurões das
legendas encrencadas; há, também, o risco de inviabilizar-se, com as cenas da
prisão fartamente empregadas pelos seus algozes; e há a própria possibilidade
de condenação, alijando-o do jogo.
Virada de Mesa
Há,
porém, outras possibilidades. Afinal, depois de arrebanhar o mandato de Dilma
Rousseff na mão grande, será que a atual situação vai se dispor a perder o
poder apenas dois anos depois, numa eleição, entregando o governo de mão
beijada? A alternativa soa improvável, até pela tradição política brasileira.
Qual seria, então, o caminho? Virar a mesa, mudando as regras do jogo e
sustentando a fachada democrática.
Seria
péssimo declarar que não haveria eleições presidenciais em 2018. A repercussão
lá fora seria pavorosa. E qual seria a solução? Mudar as regras do jogo,
adotando um parlamentarismo de conveniência, afastando qualquer possibilidade
de algum candidato estranho ao atual status
quo chegar ao poder. Note-se que um arremedo de parlamentarismo foi
cogitado, inclusive, quando Dilma Rousseff e seu mandato estertoravam.
É
claro que tudo, até aqui, é conjectura. Até setembro as regras para as eleições
de 2018 podem ser modificadas. Mas fica a cada dia mais evidente que um
candidato com agenda similar à de Michel Temer (PMDB-SP), o mandatário de
Tietê, não tem a menor chance nas urnas. É só cotejar com os índices de
aprovação do governo dele. Como a disposição dos novos donos do poder de
sujeitar-se à vontade popular é discutível – vide as festejadas reformas –
muita coisa ainda pode acontecer pelo caminho.
Cristalino, apenas, é o
fato que a festejada retomada do crescimento não passa de empulhação, as
propaladas reformas só penalizam os mais pobres e o cenário torna-se mais
sombrio a cada dia. Sob o mandatário de Tietê, as únicas coisas que
resplandecem são os escândalos de corrupção e o balcão, a instituição que
viabiliza os conchavos que fustigam os brasileiros desde maio do ano passado.
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