Apesar
do lodaçal no qual a política brasileira mergulhou – sobretudo a partir dos
recentes episódios envolvendo Michel Temer (PMDB-SP), o mandatário de Tietê – a
reforma trabalhista, que se assemelha à revogação da Lei Áurea, segue
tramitando no Congresso Nacional. Pelo que calculam os governistas, deve ser
votada até meados de junho. É capaz de ser aprovada antes da nova greve geral
programada para o próximo dia 30 pelas centrais sindicais.
Não
há entrevista em que os governistas não afirmem que a mudança é uma
“modernização” e que vai ajudar a gerar postos de trabalho em meio à crise
avassaladora. A avaliação é, no mínimo, uma leitura excessivamente otimista da
realidade. E contradiz uma pesquisa divulgada recentemente pelo Vox Populi, encomendada
pela Central Única dos Trabalhadores, a CUT.
Nela,
89% dos pesquisados dizem que, com a adoção da
jornada intermitente, não vão se sentir encorajados a financiar casa própria,
carro e até comprar eletrodomésticos no crediário. Outros 90% acreditam que, com as mudanças, não vão conseguir,
sequer, sustentar a família.
As
expectativas em relação à Previdência também são funestas: só 3% acreditam que
vão conseguir aposentadoria pelo teto estipulado pelo INSS. Outros 69% creem
que não vão conseguir se aposentar, com a exigência de, pelo menos, 25 anos de
contribuição. Segundo a pesquisa, a população vê as reformas de maneira
exatamente oposta à da enlameada classe política.
Expectativas
Alguns
podem alegar que a população segue desinformada; que prevalecem discursos apocalípticos;
que existe a resistência natural à mudança, ao novo; podem até dizer que a
pesquisa é tendenciosa. Mas não se pode deixar de perceber que a economia, em
grande medida, é feita de expectativas. E, caso essas expectativas em relação
ao futuro sejam negativas, os resultados tendem a ser, necessariamente, negativos.
Isso até quando estas se alterarem.
Assim,
não dá para sustentar o discurso da prosperidade, do crescimento, da retomada,
se as expectativas da população sinalizam na direção contrária. É o que parece
que está acontecendo. Amedrontados com a robusta ofensiva pela revogação de
direitos, os trabalhadores se retraem, à espera de um cenário mais positivo.
Posicionamentos do gênero vão, exatamente, na contramão da exaltada retomada.
É
óbvio que o Brasil enfrenta a mais severa crise econômica de sua História
documentada. Superá-la exige medidas que vão além das receitas triviais.
Piorando a situação, há uma crise política cujos desdobramentos seguem
imprevisíveis. Não serão rompantes retóricos, portanto, que vão reconduzir o
país ao almejado crescimento.
A interpretação que a
população faz das reformas redentoras é parte do cenário econômico e, portanto,
não deve ser desprezada. Ignorá-la, sustentar o discurso grandiloquente, messiânico,
é recair no curandeirismo político sempre criticado, mas nunca abandonado no
País. Seja à direita ou à esquerda.
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