Ano
que vem, como todo mundo sabe, haverá eleições gerais. Alguns pré-candidatos
estão por aí, ciscando, tentando firmar-se junto aos partidos e – sobretudo –
ao eleitorado. Aquela banda encalistrada, mais afinada com o controverso
governo federal de plantão, alardeia o fim da recessão e a retomada do
crescimento econômico como trunfos para 2018; os governistas de ontem –
particularmente os petistas – rememoram os “bons tempos” da era Lula e apostam
na continuidade do caos, confiantes no retorno triunfal do lulismo.
Ao
largo de toda essa trama, o brasileiro médio segue padecendo. Afinal, as
residuais oscilações dos indicadores econômicos são demasiado fugazes para quem
segue aí, desempregado, desdobrando-se no biscate, tentando arranjar algum
dinheiro para ir sobrevivendo nesse contexto de retração feroz.
Onipresentes
na televisão, os quiproquós dos engravatados do Planalto Central revelam pouco
sobre a realidade do País. Melhor circular pelas cidades, esquadrinhar praças,
marquises e viadutos, aventurar-se pelas vielas íngremes das favelas, varejar
subúrbios longínquos, inspecionar os vilarejos humildes dos camponeses
esquecidos. Só assim para firmar opinião abalizada sobre o temerário Brasil dos
dias atuais.
Alvejada
em cheio pela crise, a Feira de Santana também têm seus cenários dramáticos,
espaços que traduzem a aspereza dos dias que se arrastam sob a crise
interminável. Alçada à condição de metrópole, a cidade inclusive exibe inúmeros
matizes que o observador pode conectar ou, simplesmente, selecionar aquele que
lhe pareça mais pitoresco, mais emblemático.
Comércio popular
Durante
o delirante – e efêmero – ciclo de prosperidade, os bairros populares ficaram
prenhes de estabelecimentos que ofereciam ampla variedade de produtos:
açougues, padarias, mercadinhos, armarinhos, salões de beleza, lanchonetes, sorveterias,
pizzarias, restaurantes – esses dois últimos beneficiados pelo recurso mais
farto que favorecia inéditas incursões para refeições fora de casa –, além de
lojas de materiais de construção que atendiam àqueles que reformavam ou
retocavam a casa.
Espaços
comerciais nas vias principais – sobretudo naquelas onde circulam ônibus –
passaram a ser intensamente disputados. Os alugueis alcançaram as nuvens e,
apesar da elevada mortalidade dos microempreendimentos, muitos se arrojavam,
tentando firmar-se, apesar dos fracassos circunstanciais e da questionável
demanda por determinados produtos.
A
crise – basta circular pela cidade para constatar – arruinou muito do comércio
de bairro. Sobrevivem mercadinhos, açougues, padarias, bares, mais alguns
produtos e serviços que se firmaram. Mas é desolador observar as portas
corrediças cerradas, anúncios carcomidos de “vende-se” ou “aluga-se”
sinalizando para a ressaca recessiva que se seguiu à embriaguez expansionista.
Mudanças
Muitos
perderam terreno no circuito produtivo. Quem aventurou uma lanchonete, hoje produz
seus quitutes na cozinha de casa e sai para entregar ou vender; modestas salas
de estar converteram-se em salões de beleza; quem assumiu o compromisso do
aluguel, agora aventura-se prestando serviços nos domicílios dos clientes
potenciais; quem disponibilizava sua mão de obra num pequeno estabelecimento,
forçosamente se converteu em ambulante ou camelô.
Lapidar
é o papel do automóvel. Emergentes da outrora badalada “classe C” compraram
carros usados ou arriscaram-se no financiamento de um novo, ilusoriamente
galgando aquele mágico patamar da ascensão social brasileira. Quando a crise recrudesceu,
muitos mergulharam no transporte clandestino – o popular “ligeirinho” –,
passaram a vender ovos, água sanitária, beiju, pamonha ou acoplaram uma caixa
de som ao teto para divulgar propagandas pelas ruas. Tudo para seguir pagando
as prestações.
Multiplicaram-se
também anúncios nos muros e nas portas: costureiras, manicures, pedreiros,
encanadores, serralheiros, professores de reforço escolar, além da profusão de atividades
vinculadas à informática e aos serviços gráficos. Brasileiros – e feirenses –
abalroados pela crise aguda, que fincou raízes e resiste, interminável.
Em suma, o salseiro
político que agita a névoa seca de Brasília é comédia perto do drama que se
desenrola nas desoladas planícies brasileiras.
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