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Futuro do País será decidido em 2018

2018 se aproxima e promete ser ainda mais dramático que os tumultuados anos anteriores. Nele acontecerão as eleições presidenciais que, em tese, deverão restabelecer no país a normalidade democrática interrompida pelo controverso impeachment que removeu o petismo do poder e, nele, instalou Michel Temer (PMDB-SP), acusado pela Polícia Federal de chefiar um “quadrilhão” composto por próceres do emedebismo. Ao invés de sinalizar para a estabilidade, o jogo eleitoral é, ele mesmo, fator de intensas inquietações no momento.
Lula, o líder das pesquisas até aqui, já foi presidente duas vezes, elegeu e reelegeu sua sucessora – na trágica aventura que resultou no impedimento – mas, mesmo assim, pretende voltar ao poder mais uma vez. Tudo indica que não conseguirá: às voltas com o judiciário, tende à condenação em segunda instância, à inelegibilidade e a uma eventual prisão.
O segundo colocado nas pesquisas é Jair Bolsonaro. Defensor da ditadura militar, da “carta branca” para as polícias saírem matando e ácido opositor dos movimentos feminista, negro e das minorias sexuais, tem nítidas disposições autoritárias, como atestam suas frequentes declarações. Caso eleito – nada pode ser descartado – provavelmente levaria o País aos caos sem subterfúgios. Isso se não fosse impedido antes.
Ocorre que Lula e Bolsonaro dificilmente chegarão à presidência da República. Hoje, a orquestração é para viabilizar um nome simpático ao “deus mercado”, que assuma o rótulo da moderação, do “centro”, do reformismo que penaliza pobres e trabalhadores. É claro que falta combinar com os eleitores, visivelmente descontentes com Michel Temer e sua agenda de contrarreformas. Até aqui, nenhum daqueles que tentam empunhar a bandeira do reformismo redentor se sobressai nas pesquisas.

Alternativas

De uma forma geral, os candidatos – incluindo aí aqueles já mencionados prosélitos do “deus mercado” – não parecem estar à altura do terrível momento que o Brasil atravessa. Faltam-lhes credenciais para pacificar o País. A eles e também aos partidos. Não é à toa que a “intervenção militar” – na verdade, um golpe enrustido – arrebanha tantos entusiastas, inconsequentes, Brasil afora. Para alguns, a tutela e a força sempre parecem ser a solução mais fácil, mais cômoda, menos trabalhosa.
Mas há, também, alternativas igualmente tenebrosas em discussão: Gilmar Mendes, o controverso ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), costura com Michel Temer, o mandatário de Tietê, a adoção do parlamentarismo. Isso sem consultar a sociedade, sem debate público, sem plebiscito, nada. Decisão unilateral da plutocracia. O que está ruim sempre pode piorar: lá adiante, o País pode se tornar integralmente refém dos impulsos fisiológicos e clientelistas do “centrão”.
Ambas as alternativas tangenciam a democracia e flertam com o abismo. E sinalizam para mais instabilidades políticas no longo prazo. Com ela, tudo indica que a economia vai seguir claudicando, porque a repisada “retomada”, até aqui, não passou de discurso de pré-candidato. Para descortinar esse cenário, 2018 e as eleições presidenciais – caso ocorram – serão determinantes.
O quadro é desanimador. Hoje, parece que o otimismo em relação ao futuro do Brasil no curto prazo flerta com a insensatez. Não falta quem enxergue o País em direção à desagregação, a exemplo do que já acontece no Rio de Janeiro. As próximas eleições presidenciais – que deveriam resgatar a estabilidade, conforme realçado anteriormente – apontam para o acirramento do ódio, da cisão e das soluções autoritárias.

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