Oficialmente, o Brasil
está a um ano das eleições gerais. Em algumas oportunidades, mencionei que o
pleito está sendo aguardado com ansiedade por aqueles que apostam no processo como
solução para pacificar o País, desarmar espíritos e frear a beligerância
crescente. Infelizmente, talvez a sucessão presidencial contribua é para o
acirramento da crise política, abrindo caminho para soluções autoritárias.
Afinal, nenhuma das lideranças que flerta com a disputa parece dispor de
condições de unificar o país.
Daí o apego às opções autoritárias. A
controversa “intervenção militar”, por exemplo, está se tornando tema
recorrente no noticiário. Militares a defendem abertamente e não falta fanático
civil na rua fustigando a população. Até uma discutível pesquisa veio à tona, realçando
essa vocação autoritária do brasileiro. Impensável há poucos anos, a
alternativa vai ganhando musculatura.
Impressionante é o silêncio dos
pré-candidatos à presidência. Ninguém repudia, ninguém condena, ninguém convoca
qualquer ato em defesa da democracia. O próprio controverso presidente, Michel
Temer (PMDB-SP), mantém silêncio sepulcral sobre o tema. E o que é pior:
engole, calado, as declarações dos militares, fingindo indiferença pela patente
quebra de disciplina.
A hipótese da “intervenção militar” foi
lançada como isca por militares. E, pelo visto, colou, porque não despertou
nenhum repúdio Brasil afora. Ao contrário, muitos a veem como uma possibilidade
de “limpeza moral” da política do País. Certamente com os métodos de sempre:
cassações, expurgos, prisões, perseguições.
Acumulando forças
As condições políticas para a
intervenção – caso se confirme – ainda não estão maduras. Isso, imagino, só
deverá acontecer em plena corrida eleitoral, caso aconteça em 2018. É
necessário que o degenerado Congresso Nacional se degenere ainda mais; os
absurdos casos de corrupção que engolfam os mandatários do País têm que seguir
se avolumando; o desencanto e a revolta da população têm que crescer. E, acima
de tudo, é necessário um pretexto.
Mas nada garante que a intervenção
ocorrerá antes da eleição: pode ser que, depois de uma campanha fraticida, o
eleito tenha sua legitimidade posta em xeque, como ocorreu com Dilma Rousseff (PT),
alvo do controverso impeachment ano
passado. Fragilizado, pode ser deposto logo adiante, para evitar a decomposição
política do país. É um dos argumentos usados nessas ocasiões.
A desculpa para a “intervenção
militar”, além da controversa limpeza ética, será a estabilização do país e a
união da população. É argumento padrão em situações do gênero e, agora, está
sendo aos poucos recauchutada. Efetivamente, instabilidade – natural ou
induzida – não vai faltar na sucessão de 2018.
E os democratas?
Até aqui, o discurso da “intervenção
militar” enfrenta resistências escassas. Declarações esporádicas, textos
esparsos, uma ou outra manifestação verbal mais contundente. É provável que
muitos estejam duvidando que aconteça, mesmo depois da manobra parlamentar que
expurgou Dilma Rousseff da presidência da República. Apostam, ingenuamente, no
apoteótico retorno de Lula, para que tudo volte a ser como foi no passado.
Condenado, Lula não vai se firmar como
candidato. E, mesmo que vencesse as eleições, não conseguiria governar um País
em ebulição. Aquelas condições que o favoreceram em seus dois mandatos não
existem mais: a economia brasileira está escangalhada e surgiram profundas
fissuras na estrutura política. O mero exercício do voto, hoje, é insuficiente para
sustentar a combalida democracia brasileira.
O caminho para o fortalecimento da democracia é até
óbvio: a mobilização popular e a conscientização crescente acerca dos riscos de
um novo regime de exceção. O difícil é saber quem vai fazer isso: à esquerda, o
que existe é letargia e fé ingênua no retorno de Lula. E há quem veja nisso,
equivocadamente, uma forma de fortalecer o petismo. Enquanto isso, os
entusiastas da “intervenção militar” avançam pela vereda aberta.
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