A
paralisação convocada para sexta-feira (10) por algumas centrais sindicais para
protestar contra as reformas temerárias – sobretudo a reforma trabalhista, que
entrou em vigor ontem (11) – foi frustrante Brasil afora. Houve alguns atos nas
grandes capitais, mas nenhuma mobilização com maior repercussão. Aqui na Feira
de Santana o panorama não foi diferente: à exceção da parcela mais mobilizada
do funcionalismo público, praticamente não houve adesão. Apesar do movimento
mais discreto, o comércio funcionou normalmente e quem presta serviço
dedicou-se a seu ofício sem nenhum embaraço.
Ironicamente,
a oposição trabalhista definha justamente quando o governo de Michel Temer
(PMDB-SP), o mandatário de Tietê, entra em seu ocaso. Depois das tenebrosas negociatas
que o safaram do afastamento duas vezes, o controverso presidente não reúne
forças para, sequer, aprovar a temida reforma da Previdência. Tornou-se, depois
de tantas peripécias, refém do afamado “Centrão” na Câmara dos Deputados.
A
barganha despudorada, o cinismo contumaz e a sórdida desfaçatez se tornaram a
tônica do governo que vai se decompor até meados de 2018. Mas é a corrupção –
Michel Temer e sua turma foram taxados de “quadrilhão” pela Polícia Federal em
um dos seus relatórios de investigação – que constitui a principal marca da
gestão. Ela, o desmanche dos direitos trabalhistas e, obviamente, a rígida hegemonia
das bancadas do boi, da bala e do dízimo.
Mas,
apesar de todas as fragilidades que foram se avultando, sobretudo a partir do
final do primeiro semestre, com as sucessivas delações, a chamada esquerda e
aqueles que alegam se perfilar com os trabalhadores não conseguiram constituir
uma resistência consistente contra o leviatã reacionário que sucedeu o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Se é
que, realmente, pretendiam. Daí a vertiginosa revogação de inúmeros direitos
que decorreram de décadas de esforço e empenho.
A Solução Lula
Muita
gente segue apostando no retorno apoteótico de Lula à presidência, ano que vem.
A partir dele, calculam, voltaremos àquele festejado idílio que antecedeu a
catastrófica gestão de Dilma Rousseff. E, apesar de pronunciarem “golpe” a cada
frase, firmam suas expectativas numa normalidade democrática que, em tese, foi
maculada com o controverso impeachment.
Racionalmente, uma contradição insanável, que só a fé cega no lulismo
onipotente soluciona.
O
próprio Lula, matreiro, está minimizando a rasteira no petismo. Afinal,
declarou, autossuficiente, que perdoa os “golpistas” e insinuou, nas
entrelinhas, que se dispõe a compor com as mesmas figuras abjetas num futuro
governo. Pelo jeito, o “golpe” se tornou mero instrumento de retórica para
insuflar as esquerdas que vão às ruas fazer campanha. É mais ou menos a mesma
estratégia empregada desde 2002: ganha com a esquerda e governa com a direita.
Talvez,
dessas maquinações, tenha surgido a decisão de não inflamar as ruas
sexta-feira. Afinal, o próprio Lula afirmou – numa contundente sinalização –
que o “Fora Temer” já não faz sentido; não duvidaria que o esvaziamento das
ruas sirva, ingenuamente, como moeda de troca para pleitear um salvo-conduto
para disputar as eleições presidenciais.
Miséria
Mas,
objetivamente, o fato é que a temerária reforma trabalhista entrou em vigor
ontem. Com ela, as jornadas intermitentes e os salários miseráveis. Repercutiu
muito o anúncio que promete “emprego” só nos finais de semana, com “salário” de
R$ 4,45 a hora. Somado, aquilo não passa de R$ 178 mensais. As “virtudes” da
exaltada flexibilização trabalhista, portanto, estão apenas começando a se
revelar.
Não
vai demorar muito para o mandatário de Tietê ir à televisão anunciar a geração
de “milhões de empregos”. Afinal, não tem nada mais para mostrar. Vai se
tratar, na verdade, dos biscates formalizados com a nociva reforma. É
indiscutível que, provavelmente, muitos trabalhadores serão absorvidos pelo
mercado de trabalho, com remuneração vil. O cerne da questão, portanto, não
envolve a quantidade de postos de trabalho, mas sim a qualidade.
O certo é que o trabalhador
está desamparado. E nada sinaliza, no horizonte próximo, para a reversão dessa
catástrofe. Pelo contrário: nem mesmo o camaleônico Lula se compromete com
nada. Os demais pré-candidatos, pelo jeito, aplaudem o desmanche da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), refugiando-se num eloquente silêncio. Essa,
pelo visto, vai ser a toada das próximas eleições presidenciais.
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