O
embarque do passageiro é precedido pelo gesto gentil do condutor, que puxa uma
trava curta, abrindo a porta metálica. No banco estreito – que lembra aquelas
charretes antigas – acomodam-se duas pessoas. Alguns veículos são dotados de
cinto de segurança e, após alguns instantes, o passageiro experimenta a
sensação de se locomover puxado por uma motocicleta de 125 cilindradas. A
experiência é no município baiano de Paulo Afonso e o veículo é o “tuk tuk”,
uma moto revestida com cabine de fibra ou metálica, comum pelas ruas da cidade.
O
custo do serviço não é elevado – apenas R$ 6 pelo centro expandido da cidade – e,
com ele, o passageiro tem a sensação de transitar pelas cidades fervilhantes da
Índia – de onde se extraiu o nome exótico – ou pelas vias estreitas, antigas e
úmidas de Havana, a capital cubana. Lá, o veículo é batizado de “Coquito”.
A
velocidade média é baixa e nos trechos de pavimentação irregular o passageiro se
exaspera com sacolejos mais intensos. Na cidade baiana os veículos não dispõem
de padronização uniforme – há revestimento de fibra ou estrutura metálica
coberta com lona fina com múltiplos modelos e cores – e os serviços, nos dias
úteis, contam com demanda intensa. Dá trabalho encontrar um “tuk tuk”
disponível.
Os
neófitos no veículo frágil se assustam com a passagem de automóveis em
velocidade, sobretudo nos cruzamentos, ou com as manobras dos condutores que
fazem a carroceria sacolejar com mais intensidade. No meio das viagens, há
sempre avisos da central comunicando sobre novas solicitações, através de walkie talkies.
Arranjo
Os
“tuk tuk” de Paulo Afonso convivem com uma infinidade de mototaxistas, que
aguardam viagens nas diversas centrais espalhadas pela cidade. As longas
distâncias – metade da população reside em bairros periféricos cuja distância
pode alcançar até impressionantes dez quilômetros – impulsionam a atividade,
que mobiliza parcela significativa da mão de obra local.
O
“tuk tuk”, no entanto, é mais atraente porque o custo relativo é menor – transportando
até duas pessoas –, os riscos são menores que os das motos convencionais e a
comodidade, sobretudo para as mulheres, é maior. Para quem chega de fora, há o
pitoresco de experimentar um veículo que só se costuma ver em programas de
televisão sobre turismo.
Em
tempos de crise e desemprego elevado, o “tuk tuk” ajusta a demanda e a oferta
da economia popular: por um lado, gera os postos de trabalho já mencionados,
sobretudo entre aqueles menos escolarizados; por outro lado, atende às
necessidades de locomoção daqueles que nem sempre têm dinheiro para as caras
corridas de táxi, sobretudo a população pobre da periferia.
Como impulso adicional, a epidêmica
crise do transporte coletivo também aflige a população de Paulo Afonso: lá, os
ônibus são raros, sobretudo para os bairros mais afastados. E a população
aguarda a entrada em operação da empresa que venceu uma licitação recente no
município. Provavelmente, a eventual melhora não vai reduzir a demanda pelos
serviços do “tuk tuk”.
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